Revista Literária

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Clássico Clichê ao Inusitado Prazer

I

- Amor, nós deveríamos ter filhos, não acha?- disse o homem.
- Acho,claro. Seria ótimo. Se for menino herdará o nome do seu pai José, e se for mulher se chamará Joana, como minha mãe.- respondeu a mulher.
- Deveríamos planejar para o ano que vem.
- Que tal começarmos a pensar nisto agora? Afinal são nove meses na minha barriga.
- Você será a mãe mais linda do mundo.

Era um domingo, o São Paulo tinha vencido, então, tudo foi perfeito. O sexo aos domingos dependia muito do rendimento são paulino em campo. Eu amo meu marido, porém as quartas e aos domingos acho bom que vire a casaca. Ele nunca ligou muito para futebol, o pai sempre o obrigou a ir aos jogos do Fluminense, quando vivia no Rio, então, não era pedir muito.

Eu trabalho de segunda à quinta em uma empresa de marketing, lá tenho um caso com minha chefe; nos outros dias estou mais presente em minha lojinha de artesanato,e também mantenho encontros freqüentes com minha secretária. Não amo a nenhuma das duas, nem nunca amei nenhuma mulher,sou louca pelo meu casamento, no entanto, não sou completa somente com ele.

Quando eu tinha 18 anos, eu resolvi reunir a família e lhes comunicar que era homossexual. Foi um choque. Logo,fui viver na França,e lá me apaixonei por um homem e com 24 anos voltei ao Brasil casada com ele. Foi outro choque. Hoje, tenho 30 anos, e desde o segundo mês de casada mantenho minha rotina de infidelidade.Por mais que cause espanto a quem escuta,minha vida é um grande clichê no mundo gay.


II

- Você nunca fuma depois de transar.
- Estou nervosa.
- Por quê?
- Acho que estou grávida
- Eu nunca senti tanto prazer em ser lésbica na minha vida
(Risos)
- Pois é. Você não é o pai. Pode ficar tranquila.
- Por que você está nervosa? Você não o ama?
-Sim
-Então?
- Não sei. Não faça perguntas difíceis. Quando você estiver grávida saberá responder Estou tensa. Essa é minha última noite de traição e também meu último cigarro. Amanhã, irei fazer o exame só para confirmar minha suspeita.
-Eu compreendo, seja feliz. Sempre conte comigo, minha amiga.

III

Joana esta semana completará dez anos, e em toda esta década de vida da minha filha, não trai o seu pai. Todavia, nosso relacionamento está desandando, gostaria muito que fossem só as traições dele. Porém, sinto que há algo mais, e sinto que já não vamos durar tanto tempo.

Depois de um bom tempo de toda minha família como sócia do clube, passei a receber convites para os principais jogos do meu tricolor. Hoje haverá a final do campeonato paulista com o Corinthians, e pela primeira vez levarei minha filha ao estádio.

IV

- Meu Deus, mamãe. O Morumbi é muito grande. E esses corinthianos como fazem barulho, né?- comentou, Joana.
- Ô se fazem menina, ô se fazem. Esse é o meu timão!- disse uma mulher que estava sentada ao lado das duas.
- São mal educados. Isso sim. Nem o hino brasileiro eles respeitam- disse, a mãe.
-Isto é inveja. Somos visitantes e fazemos muito mais volume que vocês.
- Vamos filha, vamos. O cheiro de gambá aqui está muito forte
- Calma mãe. Calma. Olha o Ronaldo! Vou tirar uma foto! Ronaldo! Ronaldo!.
- Sentem aqui, eu prometo que comemoro os gols em silêncio- provocou, a desconhecida
-Tudo bem, hoje você não vai ver nenhum gol do seu time mesmo- respondeu indignada, a são paulina.

V

-Acho que depois dessa goleada de hoje sua filha se tornará corinthiana. Não acha?
- Eu não acho nada, e nem sei por que estou aqui contigo, e não consolando minha filha.
- Afogar as mágoas, lembra?

Os encontros com minha nova amiga corinthiana passaram a ser cada vez mais freqüentes, mesmo que as mágoas pela derrota já estavam completamente curadas.

Eu parecia cada vez mais entregue aos seus encantos, tudo com ela era diferente. No entanto, tinha a impressão que algumas vezes, ela se esquivava,ou estava em dúvida sobre a sua e a minha intenção,e assim foi por alguns meses. Com o passar do tempo, ela foi perdendo essa dúvida sobre mim, e eu estava louca para voltar a sentir aquele antigo prazer.

VI

Ela me beijava por todo o corpo, parecia que todos aqueles meses que não estávamos juntas iam ser descontados naquele momento. Apertava meus seios com força. Mordia meu pescoço, fazia de mim o que ela queria. E eu não tinha reação nenhuma. Eu estava totalmente seduzida por aquilo. Ela tirou toda minha roupa. Eu só tive forças para tirar a blusa dela. Nada era dito, apenas atitudes, beijos, línguas, mordidas. Há muito tempo eu estava perdida naquilo e nem sabia mais por onde andar. Estava dominada. Até o momento em que senti vontade de tomar um pouco as rédeas. Desfrutar dos seus belos seios e conhecer um pouco mais o seu corpo,e assim que coloquei a mão na sua saia senti que o seu corpo era diferente.

Sim, minha amiga era um amigo. Tratava-se de um grande corinthiano. Eu não podia mais parar para fazer perguntas. Estava eu ali, apaixonada, excitada e agora mais que nunca curiosa.

Nunca houve nada parecido na minha vida. Pela primeira vez em 40 anos eu me senti completa. Quando terminamos, ela quis se explicar, pedir desculpas, mas eu não deixei. Eu quis mais, quero mais e nunca vou querer nada menos do que isso.

Separei-me de meu marido, que já se casou outra vez. Hoje vivo com meu amor alvinegro e também com minha filha, que graças àquele dia se tornou corinthiana. Finalmente posso ser o que sempre quis uma boa mãe, ter um belo casamento, ser feliz e realizada em tudo que faço. E por mais que cause espanto, outra vez, eu peço perdão a quem escuta.Porém,agora,minha vida não é um grande clichê em mundo nenhum.