Revista Literária

domingo, 21 de outubro de 2012

Ouvidos


-Cale-se! Cansei de ouvir esse amontoado de mentiras. Poupe-me de seu esforço ridículo em tentar me enganar, com estas palavras que você nem sabe o que significam. Não ignore o que te toca, pois jamais nada te atingirá desta maneira outra vez.
           
Naquele momento, tive a certeza do tamanho da solidão que me assolava.

            Sou extremamente ínfimo. Refém das frases certas, do cumprimento de expectativas criadas pelo medo fodido de não ficar só. Apenas um, com algumas perguntas, diante de uma infinidade de sins, nãos, mas e poréns. Por mais que se chegue nesta conclusão, quem quer ficar falando sozinho?
            Os relacionamentos são destrutivos por si só, é extremamente ilógico, imaginar que para ser feliz, você precisa ser ouvido ou compreendido. A loucura é apenas uma linguagem que as pessoas não pararam para ouvir, ou que ainda não foram capazes de entender. Quem não quer um pouco de atenção em sua pirueta altista?
           Descobri o quanto quero que o mundo se cale para você contar nossos planos, escutar seus gemidos de amor cigano, o choro com minhas poesias, o berro de nossa filha nascendo, e finalmente me dizer o quanto seremos felizes lado a lado, rindo, chorando, sofrendo alegremente o penar de querer ouvir um te amo, mais do que qualquer outro.

Meu amor,     
Há alguns anos, desisti de tentar fazer com que o mundo me escute. Só não ache que os ouvidos da Terra são mais importantes que o seu.