Revista Literária

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Capital

    
  
Desde as primeiras horas da tarde, estava escuro. Somente podia enxergar os olhares próximos. Pareciam faróis atordoados. Avançavam, corriam e arregalavam cada vez mais dentro do obscuro.
Ninguém notava nada. Não haviam deboches, assobios e sorrisos. Meu decote era despercebido enquanto pisavam em minha sapatilha negra, sem pedir desculpas à minha possível dor.
Ofuscada. Conseguia sentir o cheiro da minha respiração ofegante. Estava perdida dentro do cotidiano horripilante dos meus.
Parei. Não, segui sem rumo. Fui levada pela multidão de vultos de expiração humana. Meus pés flutuavam em agonia. Tentei agarrar as mangas das camisas, mas todos estavam nus. Sentia pelos, peitos, braços e barriga. Nunca fui tão violada. Encolhi(...) Mentira.
Os sopros que me faziam flutuar me derrubaram. Todos os corpos escuros subiram  sobre mim e eu já não tinha decote, nem sapatilha
Sorri. Estava de pé mais uma vez. Passavam sobre o meu corpo, e eu já estava relaxada. Não sentia onde estava.
Os toques eram recíprocos, os suspiros permanentes. A dor do prazer ecoava.
O sexo é a concretização do eterno em alguns incríveis minutos.
Estava cada vez mais quente, o fluxo cada vez maior e o barulho mais ensurdecedor.
As horas corriam, minhas mãos eram entrelaçadas, meus peitos molhados, minhas pernas devoradas, minha barriga mordida e minhas costas arranhadas.
Perdi a noção de mim. Não aguentava mais. Fechei os olhos e estava quase pronta.
Ia explodir em prazer.
Mordi meus lábios com força, e uma voz de mulher veio surrando em meu ouvido:
- Bem vinda. Segunda-feira. 17 horas, 47 minutos e 39 segundos. Dia 20 de maio de 2013. Centro. Rio de Janeiro. A Capital da loucura.