Revista Literária

sábado, 29 de setembro de 2012

Boca


Quando parece que o silêncio grita, ela fala em um tom leve. Sorri pelo acaso.


A garganta consumia toda a necessidade de expressar o que aqueles lábios rachados deixavam escapar. O frio era insuportável. Conseguia ouvir os nossos dentes baterem como em uma orquestra.

 “Quer entrar?” Toda aquela parafernália de perguntas que ninguém quer saber as respostas, deu lugar a uma tão simples e necessária.

Vinho tinto e seco. Sentamos na sala. Longe um do outro. O silêncio tomava conta daquela situação. Eu olhava atentamente à boca dela, para ver quando ela ia dizer alguma coisa.

Via lábios rosados, suaves, aflitos e interessados no sabor daquela bebida que os deixava cada vez mais lindos. A dança que a taça realizava com todas aquelas rachaduras pintadas de tinto em sua boca, deixava-me totalmente reduzido a mero espectador daquela beleza.

O teor de honestidade que já tinham saído de toda a garrafa fizeram com que os incisivos rissem sorrateiramente, e eu percebi que ela gostou do encontro, da pergunta, do vinho e de mim. Naturalmente, estávamos próximos mais uma vez, sem falar nada. Dissemos um beijo.