Quando parece que
o silêncio grita, ela fala em um tom leve. Sorri pelo acaso.
A garganta
consumia toda a necessidade de expressar o que aqueles lábios rachados deixavam
escapar. O frio era insuportável. Conseguia ouvir os nossos dentes baterem como
em uma orquestra.
“Quer entrar?” Toda aquela parafernália de
perguntas que ninguém quer saber as respostas, deu lugar a uma tão simples e necessária.
Vinho tinto e
seco. Sentamos na sala. Longe um do outro. O silêncio tomava conta daquela
situação. Eu olhava atentamente à boca dela, para ver quando ela ia dizer
alguma coisa.
Via lábios
rosados, suaves, aflitos e interessados no sabor daquela bebida que os deixava
cada vez mais lindos. A dança que a taça realizava com todas aquelas rachaduras
pintadas de tinto em sua boca, deixava-me totalmente reduzido a mero espectador
daquela beleza.
O teor de
honestidade que já tinham saído de toda a garrafa fizeram com que os incisivos
rissem sorrateiramente, e eu percebi que ela gostou do encontro, da pergunta, do
vinho e de mim. Naturalmente, estávamos próximos mais uma vez, sem falar nada.
Dissemos um beijo.