Revista Literária

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Transformação

Em cada despedida, um bom dia. A novidade premeditada pela curiosidade fulmina-se em toque, beijo, desejo. Acalme-se dia, ainda prefiro a noite e é melhor esse maldito sol não nascer. Entardeça outra vez em silêncio.

O mundo parecia rir da minha vontade de ficar sentada. E eu dava risada do planeta por ser tão apressado. Quem seria a Terra se não fôssemos nós? O Planeta Água. Bebemos e acabamos contigo. E você quer que eu saia da cama? Quero a liberdade de decidir a hora que eu vou abrir o olho.

Sonho porque lá sou amada. Enquanto a realidade cabe a Deus.Meu real acompanhado e feliz. Triste é viver, só e com solidão. Jardim, praia, cama,cinema ,parque, cada dia estamos em um lugar, enquanto a vida só me encaminha em avenidas. Eu olho e só vejo sorriso. Eu olho e só vejo desperdício.

Quando estaremos juntos? Posso desenhar em quinhentos papéis o contorno das suas mãos, as linhas das suas palmas, o pequeno corte no seu indicador esquerdo. O encaixe dos nossos dedos, meu anel se depara com o vazio do seu anelar. As caricias, os beijos nas unhas e o desejo ali contido, quando encontramos com as nossas pernas sorrimos e nos desvencilhamos para a realidade do meu despertar.

Os dias, as horas e os minutos que foram levando minha idade avançarem me transformaram em uma ameaça a mim mesma. Dentes, pêlos, gordura, menstruação e toda uma aberração de feminilidade excessiva.

Não existe céu, não há nuvens, nem sol, e a lua aparece, quando queremos, para brilhar o protagonismo da perfeição de nós dois. Os abraços apertados que não doem, duram minutos mais preciosos que todo um colar de diamantes, carinho no cabelo deixando meu perfume exalar pelo ar, e aqueles beijos suaves no ombro desabrochando a tensão da realidade morta.

Acordo e acordo. Tomo banho e tomo banho. A monotonia de ganhar dinheiro para ser feliz e ser feliz. Enquanto o mundo buzina e grita e grita e buzina, eu canto comigo mesmo: “espere moreno, espero onde te deixei amor, volto mais tarde, minha vida,moreno é feita pra voar, quero as asas do teus(...) Contigo meu moreno à noite vou estar”