Revista Literária

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Fotografia de Rua

O retrato em branco e preto com teu rosto colado ao meu preso em minha escrivaninha reserva um oceano de ar. Não respiramos na foto, estamos intactos, como se buscássemos naqueles sorrisos de outrora o eterno. Nosso segundo permaneceu engaiolado dentro do vidro que porta o retrato em moldura colorida. Não vejo mais cor em nós dois. Só vejo a água daquele mar em que nadamos nos meus olhos.

Lembro o momento seguinte ao flash, eu disse que te amava e você não disse nada. Olhei os teus olhos e vi o mesmo que você havia dito. Peguei o meu celular da mão do moço e fingi que não havia gostado da foto, pedi outra. Ele tirou, sorri, te dei um beijo e disse que te amava muito, você permanecia estática. Levantei correndo e fui em direção ao rapaz, pedi mais uma foto. O homem fez o que pedi, sorri, te dei um abraço e disse em teu ouvido o quanto te amava. Você era imobilidade. Levantei e você pegou firme o meu braço.

Desvencilhei-me de tua força, cai com as mãos no sapato rosa daquele senhor, olhei o desespero que se via em mim em seus olhos. Titubeei o meu levantar e meio ajoelhado e lhe pedi mais uma foto.

Voltei ao banco e estava gelado, não sorrimos para a lente. O flash deixou meus olhos revelarem o começo do desaguar do rio que estava começando a nascer dentro de mim. Vi a sua beleza tão fria quanto o cimento do banco. Levantei, e você agarrou o meu braço com força.

Olhei em teus olhos fielmente, você me pôs no banco, levantou- se, agradeceu ao homem, pegou o celular e tirou uma foto de minha tristeza. Foi em minha direção e deixou o celular  ao meu lado.


Aquela foto sozinha tornou-se o retrato da minha vida.