Revista Literária

terça-feira, 30 de abril de 2013

Cama



Fique em pé,
Enquanto ser noite é dia.

Estou cansada.

O que te cansa para deitar?

Meu lençol de vento,
O chão de palha,
Não sinto frio, nem posso pisar.
Os isentos sobem pela minha perna
Não aguento.
Estou rouca.
Quero gritar! Preciso deitar(...)

Não.

Por favor,
Estou sentada,
Minhas costas vão à parede
(que cairá amanhã)
Estou desfalecendo na cal velha cheia de infiltrações

Abro bem os olhos,
O chão está cheio de formigas famintas,
O resto de mim é doce,
O outro podre.
(os urubus vão comer amanhã).
Sinto minha coluna estalar
Quero chamar alguém! Preciso deitar.
Deitar
Deitar (hoje)

Sim.
Minha cama é feita de terra
Minha cara está cheia de barro
Meu corpo sujo
Meu pé roça lama com a palha que sobe do colchão de poeira
Rolo na cama, e pareço um nada, no meio do meu quarto senzala.

Ouço um riso diácido
Uma voz pernambucana recita o poema
(Repete)
“Deite, se quer. Feche os olhos, mulher
Vamos sonhar para o diabo não pegar”