Revista Literária

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Coube?

Vejo-a triste
Não sei bem o motivo
Mas compadeço-me
Com tua solidão descoberta

Não há receita para o amor
O amor é amar
Olhar ao lado e estar sendo olhado.
Ninguém a vê

A estabilidade desequilibra tuas pernas
Não cai pelos empurrões vacilantes
Das risadas cobertas de um pouco mais que nada

A porta está entreaberta
Dar-te-ei minhas mãos calejadas
Às tuas unhas feitas
E verei teu sorriso de nunca

Cabe a Deus,
Por linhas tortas
Permitir que eu ame
A mais bela
De suas criações

Cabe as sete ondas que pularei,
As roupas íntimas que usará
A Yemanjá agarrar nossas flores
E revelar no céu uma só estrela

Cabe a mim ser a poesia
Que lerá todo dia
Entre as nuvens
Buscarei a mesma luz que estará olhando

Cabe a ti ser a alegria
Que me falta nos domingos sangrentos
Sem letras, cartas e palavras
Nem mesmo idéia para um poeminha

Caberá ao tempo
Não demorar
A nos encontrar
Presenteando-nos com um novo amor
Nesta nova temporada.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Transformação

Em cada despedida, um bom dia. A novidade premeditada pela curiosidade fulmina-se em toque, beijo, desejo. Acalme-se dia, ainda prefiro a noite e é melhor esse maldito sol não nascer. Entardeça outra vez em silêncio.

O mundo parecia rir da minha vontade de ficar sentada. E eu dava risada do planeta por ser tão apressado. Quem seria a Terra se não fôssemos nós? O Planeta Água. Bebemos e acabamos contigo. E você quer que eu saia da cama? Quero a liberdade de decidir a hora que eu vou abrir o olho.

Sonho porque lá sou amada. Enquanto a realidade cabe a Deus.Meu real acompanhado e feliz. Triste é viver, só e com solidão. Jardim, praia, cama,cinema ,parque, cada dia estamos em um lugar, enquanto a vida só me encaminha em avenidas. Eu olho e só vejo sorriso. Eu olho e só vejo desperdício.

Quando estaremos juntos? Posso desenhar em quinhentos papéis o contorno das suas mãos, as linhas das suas palmas, o pequeno corte no seu indicador esquerdo. O encaixe dos nossos dedos, meu anel se depara com o vazio do seu anelar. As caricias, os beijos nas unhas e o desejo ali contido, quando encontramos com as nossas pernas sorrimos e nos desvencilhamos para a realidade do meu despertar.

Os dias, as horas e os minutos que foram levando minha idade avançarem me transformaram em uma ameaça a mim mesma. Dentes, pêlos, gordura, menstruação e toda uma aberração de feminilidade excessiva.

Não existe céu, não há nuvens, nem sol, e a lua aparece, quando queremos, para brilhar o protagonismo da perfeição de nós dois. Os abraços apertados que não doem, duram minutos mais preciosos que todo um colar de diamantes, carinho no cabelo deixando meu perfume exalar pelo ar, e aqueles beijos suaves no ombro desabrochando a tensão da realidade morta.

Acordo e acordo. Tomo banho e tomo banho. A monotonia de ganhar dinheiro para ser feliz e ser feliz. Enquanto o mundo buzina e grita e grita e buzina, eu canto comigo mesmo: “espere moreno, espero onde te deixei amor, volto mais tarde, minha vida,moreno é feita pra voar, quero as asas do teus(...) Contigo meu moreno à noite vou estar”

sábado, 29 de outubro de 2011

¡ Viva La Vida !



As cores do laço
são o fio condutor
até você

As cores da corda
são o fio da meada,
Cansei de te ver

As cores são as belezas
dos que eram brancos.
Negros caminhos

São como cadarços sujos
Sabão,lave,esfregue,torça(...)
Branco

Mais uma vez sozinho.
Escolherei:
Qual cor percorrer

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Bela e a Fera



Posso te ver e escutar, oferecer o que for, mesmo que queira não há como te dar (pareço muito educado), medimos as mãos, e até jogamos baralho. Vamos assim há mais de um ano. Geralmente é difícil, mas com a mesma freqüência acho que não agüentaria ficar muito perto de você.

Uma barreira nos separa. Ando até o fim para ver se há uma porta, mas não há nem começo. Resolvo sentar e desabafar, ontem foi meu 25º assassinato, você pobre cristã acredita, e se comove por eu não me agüentar, não sei o que acharia se te contasse que já perdi as contas da quantidade de sangue que já vi. Morro de medo que você vá embora.

Tenho lá minhas dúvidas se existe natureza humana, porém não há muito o que se questionar sobre a minha,evidente que possuo. Sanguinária, vingativa, racional, sem medo. O pior tipo de pesadelo que alguém pode pensar em ter. Sou biologicamente a destruição.

Respondo o que quiser afinal você é a única que me aceita como quase o que sou. Nada mais humano que te responder quase toda a verdade. Nada mais humano que fazer com que você se apaixone por mim, que me queira que me deseje. Nada mais animal que sentir o mesmo.

Quando sonho estamos juntos, você de branco e eu de preto, você sorrindo e eu sedento. Fazemos amor. Acordo. Corro para te ver, e lá está o seu sorriso eternamente sorriso. Quero abrir uma porta, usar minha força, gritar, lutar, matar, quebrar esse espelho sem reflexo que me separa de você.

domingo, 14 de agosto de 2011

Vidas


A solidão
Preenche meu corpo
Com ou sem cor
Dor

So-
Li-
Dão

Dor

Cor-
Po

Eram espaços
Que hoje são só,
Desenhos,frases,nomes.
Eu.

Linhas solitárias
Espalhados e sozinhos
Braço,perna,peito,mão
Minhas.

Somos dor
Solidão
Todos juntos em meu corpo
Tatuagem

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Carolina quis saber por que tantas Carolinas

-Não sei, são apenas Carolinas.
-Nenhuma sou eu?
-Não sei.
-Como assim não sabe?
-Quando a pessoa não tem conhecimento.
-Mas você escreveu...
-Isso eu sei.
-Você gosta do meu nome?
-Qual? Carolina?
-Não (...). Tereza.
-Não, Tereza não.
-Você é ridículo! Irritante! Toda poesia tem uma Carolina e nenhuma sou eu.
-Quem falou?
-Você.
-Eu?
-Disse que não sabia, mesma coisa.
-Você acha?
-Se fosse você diria.
-Mas eu não sei.
-Então por que não bota Tereza,Carla ou Maria?
-Porque gosto de Carolina.
-De mim?
(...)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Depois do Outono


Estou coberta até o nariz, minhas pernas me pedem que busque mais uma calça,mas não sei onde você jogou. Fico lembrando como teus punhos ardiam nesta cama. Quem sabe perca a vontade de procurar. Amava-me demais, meu amor

Não consigo pensar em outra coisa. O castigo de amar. Não sei porque caço. Vejo que encontro,mas não controlo esta minha maldita paixão. Interminável.Crueldade. Acho que entendo porque estou deitada. Sinto-me nua. Lendo tuas poesias, estou vestida somente pelas vírgulas.

A neve frita os meus pensamentos. Deixo que o tempo passe lentamente na janela, quem sabe cure o próprio mal de existir. Nunca duvidei do poder das horas, elas estão melhores acompanhadas que eu. Minutos e segundos. Ponteiros caiam! Eu olho para eles,enquanto não me vêem. Relógio presenteado por ti, os indicadores de tempo estão apontando tua direção.

Esperando o inverno passar,meu bem? Venha logo! Não pense,não escreva, pare de chorar, guarde tuas flores. Apenas aja! Pois quando o tempo esquentar, posso levantar, parar de ouvir esse maldito tique-taque, e ver que tudo era como antes.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ana Terra

I

Todo álcool que arranhava minhas veias
O pranto que corria do teu nome
A poesia que consumia o poeta
O amante que sofre
O amor que foi
Minha musa era dor
Sangrava-me palavras
Escrevia sem mão

O desespero do sem
A falta da sua voz
Aquelas canções que me cantava
Minhas letras foram ao mundo
Vendi para meu vício
Quero mais uma dose
Sem gelo

Consumo as pessoas
Uso-as como fuga
Sou mais minhas personagens
Nem singular, nem plural
Sou João, Maria, Carlos, Raquel

II

De noite, foi tarde
Pôr do sol
Lua que chegava

Fim do amante teu
Amores meus
Não
Não
Não!

Desculpa, amor
Pela minha ausência, sem adeus
E volta
Para mim
Porque sempre te amei,
Serei tua, só tua
Não
Não...

Sei que anda guarda minhas fotos,
Aquele dia está nas suas coisas
Quem mais além de mim?
Não?

III

Teu sorriso,amor
Eu te amo
Eu te amo
Admito quantas vezes quiser

Só sei te escolher,
Pertenço ao seu cheiro
Meus olhos são teus
E minha boca é só de tua

Deixa aqui teus seios em minhas mãos
Enquanto acosto a cabeça em teu ventre
Põe a mão em meu cabelo, e não se esqueça de acariciar
Assim, até meu sono será Ana.

Diga a Deus
Que não atrapalhe
Cansei dele em tudo
Agora,
Sou só eu e a Terra.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sem Fim

O chão caminha sob os meus pés
A comida engole a minha garganta
O uísque fica bêbado de mim
E eu não consigo parar de olhar você

Presidente Vargas corre sob os cariocas
A fome cospe os famintos
A Lapa vomita os malandros
E eu não tenho medo te ver

Quem é essa?
O sol faz rotação
A lua é o astro rei
Tudo negro

Grande enigma
O desejo do seu corpo
Que não conheço
Inspira a loucura do mundo
Confuso, atordoado (...)
Perturbador
Obscuro
Gosto

Corpo que seu olho não deixa beijar
Boca que seu olho não deixa tocar
Preto
Olho negro
Lindo
Quero
Quero mistério
Goze
Goza
Deixa que o amor deleite sobre nós
Deságüe sobre o prazer o seu olhar

sexta-feira, 18 de março de 2011

Desculpa pelo adeus que não foi


Nasci, vivi. Calma, ainda não morri
Mas já estou morto na vida,
Ainda não na poesia,
Por isso a escrevi daqui a uns anos

Sabe que amei,sofri,empobreci,
Só não que viajei até Madri
Lá, casei,tive filhos
Um doutor e outra atriz

Alguns sonhos; realizei vários
Muitos amores; apaixonei-me pouco,
Vida feliz; chorei um bocado
Senti tua falta quando parti
Chorou mais do que quando faleci

Nada disse,
Saí.
Porta entreaberta
Carta no armário:

Mãe,
Obrigado.
Desculpa,
Estou atrasado.
Meu avião sai às dez.
Juro que te escrevo logo

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Clássico Clichê ao Inusitado Prazer

I

- Amor, nós deveríamos ter filhos, não acha?- disse o homem.
- Acho,claro. Seria ótimo. Se for menino herdará o nome do seu pai José, e se for mulher se chamará Joana, como minha mãe.- respondeu a mulher.
- Deveríamos planejar para o ano que vem.
- Que tal começarmos a pensar nisto agora? Afinal são nove meses na minha barriga.
- Você será a mãe mais linda do mundo.

Era um domingo, o São Paulo tinha vencido, então, tudo foi perfeito. O sexo aos domingos dependia muito do rendimento são paulino em campo. Eu amo meu marido, porém as quartas e aos domingos acho bom que vire a casaca. Ele nunca ligou muito para futebol, o pai sempre o obrigou a ir aos jogos do Fluminense, quando vivia no Rio, então, não era pedir muito.

Eu trabalho de segunda à quinta em uma empresa de marketing, lá tenho um caso com minha chefe; nos outros dias estou mais presente em minha lojinha de artesanato,e também mantenho encontros freqüentes com minha secretária. Não amo a nenhuma das duas, nem nunca amei nenhuma mulher,sou louca pelo meu casamento, no entanto, não sou completa somente com ele.

Quando eu tinha 18 anos, eu resolvi reunir a família e lhes comunicar que era homossexual. Foi um choque. Logo,fui viver na França,e lá me apaixonei por um homem e com 24 anos voltei ao Brasil casada com ele. Foi outro choque. Hoje, tenho 30 anos, e desde o segundo mês de casada mantenho minha rotina de infidelidade.Por mais que cause espanto a quem escuta,minha vida é um grande clichê no mundo gay.


II

- Você nunca fuma depois de transar.
- Estou nervosa.
- Por quê?
- Acho que estou grávida
- Eu nunca senti tanto prazer em ser lésbica na minha vida
(Risos)
- Pois é. Você não é o pai. Pode ficar tranquila.
- Por que você está nervosa? Você não o ama?
-Sim
-Então?
- Não sei. Não faça perguntas difíceis. Quando você estiver grávida saberá responder Estou tensa. Essa é minha última noite de traição e também meu último cigarro. Amanhã, irei fazer o exame só para confirmar minha suspeita.
-Eu compreendo, seja feliz. Sempre conte comigo, minha amiga.

III

Joana esta semana completará dez anos, e em toda esta década de vida da minha filha, não trai o seu pai. Todavia, nosso relacionamento está desandando, gostaria muito que fossem só as traições dele. Porém, sinto que há algo mais, e sinto que já não vamos durar tanto tempo.

Depois de um bom tempo de toda minha família como sócia do clube, passei a receber convites para os principais jogos do meu tricolor. Hoje haverá a final do campeonato paulista com o Corinthians, e pela primeira vez levarei minha filha ao estádio.

IV

- Meu Deus, mamãe. O Morumbi é muito grande. E esses corinthianos como fazem barulho, né?- comentou, Joana.
- Ô se fazem menina, ô se fazem. Esse é o meu timão!- disse uma mulher que estava sentada ao lado das duas.
- São mal educados. Isso sim. Nem o hino brasileiro eles respeitam- disse, a mãe.
-Isto é inveja. Somos visitantes e fazemos muito mais volume que vocês.
- Vamos filha, vamos. O cheiro de gambá aqui está muito forte
- Calma mãe. Calma. Olha o Ronaldo! Vou tirar uma foto! Ronaldo! Ronaldo!.
- Sentem aqui, eu prometo que comemoro os gols em silêncio- provocou, a desconhecida
-Tudo bem, hoje você não vai ver nenhum gol do seu time mesmo- respondeu indignada, a são paulina.

V

-Acho que depois dessa goleada de hoje sua filha se tornará corinthiana. Não acha?
- Eu não acho nada, e nem sei por que estou aqui contigo, e não consolando minha filha.
- Afogar as mágoas, lembra?

Os encontros com minha nova amiga corinthiana passaram a ser cada vez mais freqüentes, mesmo que as mágoas pela derrota já estavam completamente curadas.

Eu parecia cada vez mais entregue aos seus encantos, tudo com ela era diferente. No entanto, tinha a impressão que algumas vezes, ela se esquivava,ou estava em dúvida sobre a sua e a minha intenção,e assim foi por alguns meses. Com o passar do tempo, ela foi perdendo essa dúvida sobre mim, e eu estava louca para voltar a sentir aquele antigo prazer.

VI

Ela me beijava por todo o corpo, parecia que todos aqueles meses que não estávamos juntas iam ser descontados naquele momento. Apertava meus seios com força. Mordia meu pescoço, fazia de mim o que ela queria. E eu não tinha reação nenhuma. Eu estava totalmente seduzida por aquilo. Ela tirou toda minha roupa. Eu só tive forças para tirar a blusa dela. Nada era dito, apenas atitudes, beijos, línguas, mordidas. Há muito tempo eu estava perdida naquilo e nem sabia mais por onde andar. Estava dominada. Até o momento em que senti vontade de tomar um pouco as rédeas. Desfrutar dos seus belos seios e conhecer um pouco mais o seu corpo,e assim que coloquei a mão na sua saia senti que o seu corpo era diferente.

Sim, minha amiga era um amigo. Tratava-se de um grande corinthiano. Eu não podia mais parar para fazer perguntas. Estava eu ali, apaixonada, excitada e agora mais que nunca curiosa.

Nunca houve nada parecido na minha vida. Pela primeira vez em 40 anos eu me senti completa. Quando terminamos, ela quis se explicar, pedir desculpas, mas eu não deixei. Eu quis mais, quero mais e nunca vou querer nada menos do que isso.

Separei-me de meu marido, que já se casou outra vez. Hoje vivo com meu amor alvinegro e também com minha filha, que graças àquele dia se tornou corinthiana. Finalmente posso ser o que sempre quis uma boa mãe, ter um belo casamento, ser feliz e realizada em tudo que faço. E por mais que cause espanto, outra vez, eu peço perdão a quem escuta.Porém,agora,minha vida não é um grande clichê em mundo nenhum.