Revista Literária

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Madrecita

Em minha alma,
Há um espaço adornado,
Sagrado,
No hay dolor

No começo era lágrima,
Tudo virando
Os gritos, os sonos, as palavras sem dono
El amor.

Houve a mentira
Houve a história que lhe conto
La madre de todos eses años
Se acaba de cumplir más un tanto.

Cubro a tarefa de hijo
Con lucha
Trago presentes
Mando flores
Água misturada!
Un vaso sin hielo, por favor!

Abrazo
Beso
Grito!

De desespero
De rabia
De incompreensão
De(...)

Amo a minha mãe como amo a última linha
daquela poesia jamais escrita
A impossível

Te quiero, madrecita

Estamos juntos desde o dia da criação.
Sou o reflexo sem nexo
Perdido

Desse impuro e santo coração.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Dia

Chegada. Sorrir a beleza do belo instante.  Momento de encontro sem hora de dizer adeus. O brilho da manhã cobre as cortinas de nossos beijos em forma de Bossa Nova. As palavras que ainda não disse são todas faladas pelo nosso olhar. Uma dissertação de doutorado em piscadelas de olhos felizes. Um abraço.

Talheres. Sentamos como se nunca tivéssemos havido sentado no mesmo lugar. A rotina é dançante e os passos são cegos. A coreografia da mesa nos leva para o quarto. A janela está aberta e o seu prato vai esfriar. Calamos em respeito a refeição. A sobremesa não tem mesa. O chocolate transborda em derretidas palmas de rir.

Circo. Jogo o teu cabelo para cima, leoa. Corro do tapa forte da garra sem unha. Olho o seu ódio e gargalho no chão. Sem achar a graça, encontra o meu beijo no piso gelado e ganha um abraço apertado. O palhaço tira a meia do sapato e esfrega em seu botão. O riso é completo. A mágica das palavras do amor são ditas e a plateia aprende finalmente a bater palmas sem vergonha do vizinho que quer ouvir a televisão.

Praia. O oceano dá a maré o embalo do prelúdio do amanhã. As espumas correm lentas, procuram os relógios da areia e despejam suas algas na beira dos ponteiros. A rotina calma da água salgada é tão eterna quanto os minutos que duram os nossos últimos beijos. Sem sombra, o sol se despede e a lua governa o mar de Copacabana.

Ditadura. As estrelas se colocam todas em sua luz pequena, e a lua rouba-lhes a graça de ser o membro mais romântico do céu. Pobre Sol que nos ilumina e esquenta, a lua esfria e pede abraços. A estrela se ajoelha e o satélite ergue a ordem de chegada. A noite nos engole. O fim do dia é a brevidade do adeus e a saudade imemorável do amanhã.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Segunda- Feira

Excomungando pelos BOPE,
Bendito seja a bandeira da pobreza de opinião
A base de Guaratiba, os soldados de Hitler eram de Buenos Aires  
A ditadura da paz e do amor desde 1966

A manifestação sacra do esquecimento

Pedro Alvares S. Cabral
Que descobriu a mentira
A vergonha
Que nunca me disse que Cristo era árabe
Eu sou apostólico romano e de Deus.
Inocente feito um índio
Ignorante quanto alguém que diz o índio

Amém, Papa
O senhor esteja convosco, ele está no meio de nós.

Sou contra a Copa
Sou contra a Olimpíada
Devolvam o Brasil,
Mas tragam de volta para a festa
Jovem Michael Jackson
Tão branco e bom como O., Juan Carlos

Esquecimento das Cruzadas que tivemos,
Dos escravos,
Das bruxas,
Dos beats papas
Das freiras de Almodóvar

religião de aluguel

A contrarreforma:
Feira de indulgências em plena Copacabana
Nossa senhora, de Copacabana?

Alguém me explica o que aconteceu esse final de semana?
Bebi vinho, tomei uma pastilha gigante e sonhei com o corpo de Sputnik

Ressaca e de Chico!



foto: Papa Alexandre VI

domingo, 30 de junho de 2013

Mentira,Canarinho

Minto. Minha alma nasceu descrente
Acredito que não dizer o que é me faz.

Penso que tudo está no marco do literal
Cumpro com meu dever cívico de te amar
Mas na verdade, eu não amo.

Saio com a esperança de não voltar
Tenho um bom dia
E tenho que ter todos os dias.

O sangue, a dor, a verdade
Tudo é escondido
Fiz cirurgia plástica ontem.

Chamei a polícia para dançar
Eu estava de branco, eles de preto
Mas na verdade, queríamos cores

Sentei-me na faixa de pedestres
Os carros pararam
Era tudo mentira

Ficamos felizes
Vencemos o Brasil
Era tudo mentira

Ficamos felizes
O Brasil venceu
Muitos gols
Era tudo mentira

Índio
Maré
Maracanã

É verdade, mas tenho que mentir.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Capital

    
  
Desde as primeiras horas da tarde, estava escuro. Somente podia enxergar os olhares próximos. Pareciam faróis atordoados. Avançavam, corriam e arregalavam cada vez mais dentro do obscuro.
Ninguém notava nada. Não haviam deboches, assobios e sorrisos. Meu decote era despercebido enquanto pisavam em minha sapatilha negra, sem pedir desculpas à minha possível dor.
Ofuscada. Conseguia sentir o cheiro da minha respiração ofegante. Estava perdida dentro do cotidiano horripilante dos meus.
Parei. Não, segui sem rumo. Fui levada pela multidão de vultos de expiração humana. Meus pés flutuavam em agonia. Tentei agarrar as mangas das camisas, mas todos estavam nus. Sentia pelos, peitos, braços e barriga. Nunca fui tão violada. Encolhi(...) Mentira.
Os sopros que me faziam flutuar me derrubaram. Todos os corpos escuros subiram  sobre mim e eu já não tinha decote, nem sapatilha
Sorri. Estava de pé mais uma vez. Passavam sobre o meu corpo, e eu já estava relaxada. Não sentia onde estava.
Os toques eram recíprocos, os suspiros permanentes. A dor do prazer ecoava.
O sexo é a concretização do eterno em alguns incríveis minutos.
Estava cada vez mais quente, o fluxo cada vez maior e o barulho mais ensurdecedor.
As horas corriam, minhas mãos eram entrelaçadas, meus peitos molhados, minhas pernas devoradas, minha barriga mordida e minhas costas arranhadas.
Perdi a noção de mim. Não aguentava mais. Fechei os olhos e estava quase pronta.
Ia explodir em prazer.
Mordi meus lábios com força, e uma voz de mulher veio surrando em meu ouvido:
- Bem vinda. Segunda-feira. 17 horas, 47 minutos e 39 segundos. Dia 20 de maio de 2013. Centro. Rio de Janeiro. A Capital da loucura.