Chegada. Sorrir a beleza do belo instante. Momento de encontro
sem hora de dizer adeus. O brilho da manhã cobre as cortinas de nossos beijos
em forma de Bossa Nova. As palavras que ainda não disse são todas faladas pelo
nosso olhar. Uma dissertação de doutorado em piscadelas de olhos felizes. Um
abraço.
Talheres. Sentamos como se nunca tivéssemos havido sentado no mesmo
lugar. A rotina é dançante e os passos são cegos. A coreografia da mesa nos
leva para o quarto. A janela está aberta e o seu prato vai esfriar. Calamos em
respeito a refeição. A sobremesa não tem mesa. O chocolate transborda em
derretidas palmas de rir.
Circo. Jogo o teu cabelo para cima, leoa. Corro do tapa forte da
garra sem unha. Olho o seu ódio e gargalho no chão. Sem achar a graça, encontra
o meu beijo no piso gelado e ganha um abraço apertado. O palhaço tira a meia do
sapato e esfrega em seu botão. O riso é completo. A mágica das palavras do amor
são ditas e a plateia aprende finalmente a bater palmas sem vergonha do vizinho
que quer ouvir a televisão.
Praia. O oceano dá a maré o embalo do prelúdio do amanhã. As espumas
correm lentas, procuram os relógios da areia e despejam suas algas na beira dos
ponteiros. A rotina calma da água salgada é tão eterna quanto os minutos que
duram os nossos últimos beijos. Sem sombra, o sol se despede e a lua governa o
mar de Copacabana.
Ditadura. As estrelas se colocam todas em sua luz pequena, e a lua
rouba-lhes a graça de ser o membro mais romântico do céu. Pobre Sol que nos
ilumina e esquenta, a lua esfria e pede abraços. A estrela se ajoelha e o
satélite ergue a ordem de chegada. A noite nos engole. O fim do dia é a
brevidade do adeus e a saudade imemorável do amanhã.
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