Revista Literária

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O poeta e a bailarina


- Dai-me ritmo - disse o homem.
- Pois, presenteei-me com tuas letras. - contestou a mulher

Por uns minutos se entre olharam com um ar de desconfiança e, de repente, caíram na gargalhada. O rapaz, em meio a risos, perguntou:

- Por que está rindo?
- Ora, pelo mesmo motivo que você.
- Não sei por quê.
- Porque deu vontade, não seria por isso que as pessoas fazem as coisas?
- Não acho que alguém limpe o banheiro porque quer.
- Não se contenta nem em rir em paz, já tem de vir com suas idéias comunistas e colocar algum pobre faxineiro no meio.
- Nunca limpou nenhum banheiro?
- Já, mas é claro!- a mulher respondeu em tom um pouco ríspido.
- Então você é faxineira? Prazer. Sou poeta.

E como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo, os dois voltam a rir:

- Certo certo... Admito que ri porque pensei no senhor vestido de collant e dançando ballet clássico.
- Eu, “senhor”? - sem achar muita graça, o rapaz faz a pergunta.
- É (...). Não quero te dar tanta intimidade hoje, sempre me convence a algo que não quero.
- Vejo que a “senhora” não gostou do último convencimento. Estranho-me, não parecia.

Para quem olhassem os dois naquele momento, não diria mais que estavam conversando harmoniosamente, já que este momento de silêncio se uniu a dois ou três goles d’água e olhares fulminantes de ambas as partes. Um pouco incomodada com o silêncio, a moça o quebra com uma pergunta:

- E por que também riu?
- Imaginei-te escrevendo uma poesia.
- Crê que não consigo?
- Pensa que não posso dançar? – respondeu o poeta, ironicamente, com mais uma pergunta.
- Não sei. - um pouco confusa, a bailarina o respondeu.
- Nem eu. – o poeta termina com o mesmo ar de confuso que ele tinha no último diálogo.

Agora, apesar dos questionamentos mal respondidos, os dois tinham aparência mais suave em comparação à última pausa. Na verdade, o silêncio de agora não foi nem para rir, nem para tomar água. Foi pra refletir. Após aqueles minutos de pensamentos, o poeta abriu um pequeno sorriso e olhou-a:

- Digo-lhe algo bailarina: você me completa.

10 comentários:

  1. Caraca, parabéns, está completamente completo!

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  2. perplexo.

    extasiado.

    senti os dois na minha frente.

    lindo, igor.

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  3. sou amigo da Marina Rocha e vi teu recado pra ela e resolvi entrar..
    porra, muito bom esse texto cara, tá de parabéns...
    continua assim
    um abraço

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  4. adorei a sintonia das personagens, mexicano!
    beijos

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  5. Fala México, aqui é Gabu! Tá show de bola o texto cara, bem trabalhado e criativo!

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  6. Muito legal, dá realmente para imaginar os dois na minha frente!

    vlw
    abçs

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  7. bravo,bravo,bravo!

    gostei da parte em que o poeta intervem com outra pergunta...interessante.

    dominando e guiando

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  8. - Digo-lhe algo bailarina: você me completa.
    filho, você é completo e completa muitos....
    parabéns....

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  9. eu adoro essa! desde que vc me mandou, volta e meia me pego lendo.
    parabéns, mexicano! saudades! (bia)

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  10. muito bom! teu poetar e algo lírico, sensivel
    e extasiante.

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