Revista Literária

quinta-feira, 4 de março de 2010

Deus e o anjo sobre Zé Ninguém

I- Desabafo

Um dia perdido,
Não sei onde, nem por que
Pensei (...)

Não havia conclusão,
Estava vazio.

Um ermo sentimental,
Uma fome de nada,
Um anseio de qualquer coisa,
Uma ilusão de sossego


II- Decisão

- O homem nitidamente encontra-se consumido por uma aflição interna, e claramente lhe falta algo, talvez seja amor, dinheiro, sexo, sabe-se lá. Mas pela minha experiência como anjo guardião, atrevo-me, Senhor, a dizer que este sujeito perdeu o objetivo da vida, apenas respira, porque inspirar e expirar são funções involuntárias. Se continuar assim seu rumo será a morte. – Analisa o anjo.

-Há pessoas, nobre anjo, que apenas nascem e morrem. - contesta-lhe Deus.

-Não foi você que disse que os seres humanos precisam também crescer?

O céu é tomado pelo silêncio. O anjo tinha deixado Deus, aparentemente, sem saída, e é lógico que se tratava de uma situação nada corriqueira, nenhum servo divino ousa fazer estes tipos de perguntas, mas o pequeno alado tinha tomado um carinho muito grande por aquele homem, teria que haver alguma solução para aquele problema existencial e o decreto de morte era o último recurso.

O senhor dos homens tinha uma resposta, afinal, ele sempre tem e todo mundo acredita, e o anjo não ousaria retrucar mais uma vez, teria que ter fé na decisão do detentor da imagem original humana, e então, com toda calma e até esboçando um sorriso, Ele diz:

-Então assim será. Vamos ver se este filho meu encontra alguma solução. Que pai é esse que não confia nos seus herdeiros?


III- Notícia

Morre jovem asfixiado em um incêndio em sua casa de campo

(...) Segundo os peritos, o ocorrido foi premeditado pelo próprio rapaz (...)