Revista Literária

sábado, 10 de abril de 2010

Olhos do nó cego

Um laço é algo engraçado. Pense bem: Fiz um laço, desfiz outro, fiz um laço, desfiz outro e assim vai; o mais intrigante é que às vezes ou muitas das vezes desfazemos o laço que acabamos de criar ou o nosso próprio laço se desfaz.
Mas agora pense em um nó cego, pensastes?Complicado. Difícil. Atrevo-me a dizer que pode ser até algo eterno.

Lembra-se do primeiro choro do seu maior tesouro?
Desespero, tensão (...). Alívio. Com os olhos,ela respondia:
-Calma mãe, é apenas sono.

Um sono lindo, calmo e teu, teu amor, tua filha, maior orgulho.

Logo vieram problemas na escola, primeiras paqueras, queda de bicicleta, boletim, primeiras saídas, amigos que não do teu agrado, conselhos, brigas, castigos; deitada em teu colo... Choro, agora sim, de tristeza, decepção... É a vida. Tua filha cresce e seus problemas te envelhecem, consomem teus pensamentos e só assim em tua impotência, percebe que a por para dormir, já não irá calar seu choro. Aquela menininha é do mundo e ele dói e sabes disso, mas por ti ela somente conheceria estas coisas pelos filmes.

Admiro este “cargo”, o cadarço, mais importante, que agora faz parte de um nó composto. Não só dois, agora, quatro. Problemas multiplicados. Louco é aquele que só pensa no lado negativo, o lado bom é enriquecedor. Seis braços. Quatro já em teu ombro e dois pequenininhos ainda em tua cintura; dependentes, suaves e puros. Amor cego e todo recíproco

Outro dia, acordastes tarde e vistes as três sentadas vendo televisão, perguntou qual era o programa que viam e foi respondida ao mesmo tempo pelas três, em seus respectivos tom de voz e expressão, também foi convidada a acompanhá-las. Aceitou. Não se interessou muito pelo programa, tanto que se te pergunto o nome não lembras, mas ali ficou sentada, sem dizer uma palavra até o fim daquela atração matinal, posta em conclusão pela filha mais velha, que disse:
-Chega!Esta mulher é muito chata, vou mudar de canal!

Pensou em pedir para que o tempo voltasse por uns alguns minutinhos, mas já era tarde, o caos estava instaurado. A filha mais nova que chorava pedindo para que voltasse ao canal que estava, pois ia começar o desenho, a outra tentava apaziguar e dar razão a mais nova, afinal segundo ela o que custava ver um pouco da animação, porém como de comum nada de acordo e o barulho só aumentava, o controle voava de lá para cá, gritos, choro incessante e no meio da bagunça uma delas disse:
-Mãe, faz alguma coisa!

De pronto, acordaste de teu transe e precisa tomar uma atitude. Pensava contigo mesma:
-Desenho, filme, novela, jogo. Por que tanta coisa na programação?

Mas já não tem tanto tempo para ficar filosofando o que irá fazer?
Fim.

Não, calma, não é o fim do texto, mas fim à TV. Resolveste desligá-la. Não agradou nem a gregos nem muito menos aos troianos, mas o que não ia fazer é convocar uma votação extraordinária para definir o futuro da televisão, e para completar, disse:
- Em minha época, não tinha essas mordomias de ficar vendo programinha, nem televisão eu tinha. Já para à cozinha todas três. Ajudem-me com o almoço!

Foram emburradas, mas foram, ganhastes mais umas horas junto com tuas amadas era isso o que queria afinal, verdade? Deixa este negócio de democracia com os gregos, já que em terra de nó cego quem tem um olho só é rei, não é mesmo?

16 comentários:

  1. Gostei deste texto Igor. Quantos nós cegos temos...

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  2. E são os nós que todas as mães querem no fundo, os nós que apenas ELAS sabem que existem e que são pra sempre!

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  3. E nossa vida não passa de um grande círculo repleto de nós. Ouso dizer que, quem sabe dentro de nossa própria vida existam diversos círculos de nós que normalmente não compreendemos, mas que devemos sim desatá-los?

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  4. Olá,

    quando me deparei com a foto, quase tive um orgasmo literário!

    Sem sombra de dúvidas um time, um conjuto de homens além de qualquer sonho!

    Quem tem um olho só não é pirata?
    Sou péssima quando o assunto é ditados populares, acabo invertendo tudo, ou sei lá seguindo uma lógica.

    De qualquer forma obrigada pela retórica.

    http://memoriaspsicodelicas.blogspot.com

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  5. captou maravilhosamente a relação de mãe/filha.
    cabe às duas pontas da corda, manter os nós e/ou desatar laços. beijos

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  6. Nossa.. nunca pensei nas coisas por esse ponto... me falta a palavra pra descrever o que senti quando li..
    Excelente Post...

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  7. parabéns pelo blog, cara. merece mais seguidores pela qualidade dos textos.

    abraço

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  8. Muito legal, adorei o texto, a vida é mesmo um ciclo, cheio de laços, mas nem todos conseguimos desatar.

    parabéns!

    www.todososouvidos.blogspot.com

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  9. caraaaa
    nunca tinha olhado as coisas por esse lado...
    muito engraça do como as coisas mudam totalmente dependendo do ponto de vista!!

    desculpa eu n tar sempre por ake... tou meio sem tempo kra...
    sempre que puder!! apareço pra dar uma força!!
    vc tá indo mtoo bem =D

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  10. a vida inteira é interligada,nada é só...

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  11. Adorei o texto!
    Isso me faz pensar sobre os nós que temos e não vemos :/

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  12. Belíssimo texto! O uso da figura do cadarço é bastante original, parabéns!

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  13. Gostei, como tudo que tem por aqui.
    É bom te ter como leitor, mas é ainda melhor quando te leio.
    www.bsproducao.blogspot.com

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  14. OBA-A! Que surpresa agradável! Amo esse!
    (é que me bateu uma onda de benevolência e resolvi comentar. não é sempre que dou esse gostinho!)

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  15. É muito bom ver você evoluindo.
    Eu lembro dos seus primeiros textos, que não eram ruins, mas comparados à esses últimos, ficam muito pra trás.
    Eu amo suas metáforas, elas são muito singulares.
    E ah, você tá melhorando MUITO na pontuação, ahn?! hauhauahuahuaha

    Tá vendo que eu venho aqui?

    Amo você,
    beijo

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